O ideal de corpo perfeito preconizado pela nossa sociedade e veiculado pela mídia leva as mulheres, sobretudo na faixa adolescente, a uma insatisfação crônica com seus corpos, ora se odiando por alguns quilos a mais, ora adotando dietas altamente restritivas e exercícios físicos extenuantes como forma de compensar as calorias ingeridas a mais, na tentativa de corresponder ao modelo cultural vigente. Dessa forma, aumenta-se a pressão da equação: promessa de Felicidade e Beleza = Consumo
No tocante dessa problematização, acredita-se que o atual momento histórico fomenta no imaginário feminino a fantasia de que só basta querer para adquirir a imagem corporal idealizada. O avanço da tecnologia da beleza, através do apelo midiático-imagético, o qual modela subjetividades e impulsiona o lucrativo mercado da indústria da magreza, coopta o simbólico feminino em suas necessidades básicas, seduzindo-o para o alcance do corpo perfeito. Para tanto, publiciza, via fascinação, modelos de beleza que tendem a ocupar o limite extremo dessa busca obsessiva, desfigurando, assim, a tênue linha divisória entre o saudável cuidado com o corpo e o sutil movimento de instalação de doenças narcísicas.
Além disso, a imagem do corpo ideal é acompanhada de conotações simbólicas de sucesso, autocontrole e autodisciplina. O fracasso em se atingir esse ideal de beleza passa a ser compreendido com falta de vontade, baixa auto-estima e personalidade fraca. Por outro lado, os que atingirem esse padrão de forma corporal alcançarão tudo o que buscam, desde sucesso na profissão, nos relacionamentos sociais e amorosos.
Enfatizando o crescente número de mulheres que manifestam sua inconformidade com o peso e a aparência física e que frequentemente recorrem a dietas, atualmente, são raras as pessoas que não tenham se submetido a algum tipo de dieta alimentar. Lamentavelmente, a maioria das pessoas com excesso de peso e com uma alimentação inadequada não atingiram esse peso almejado que pudessem mudar seu estilo de vida. E não é por falta de querer se submeter a um programa alimentar de baixo teor calórico ou por falta de dieta disponível. O problema, talvez, não esteja na dieta em si, mas numa estrutura ambiental que produz hábitos alimentares inadequados que, frequentemente, são incompatíveis com o que chamamos de qualidade de vida.
http://www.ufsm.br/direito/artigos/opiniao/influencia-midia.htm
Os efeitos nocivos do uso deliberado de anorexígenos, os quais fazem parte desta lógica lucrativista da cultura de "sensações". Prescritos pela classe médica através de fórmulas produzidas em farmácias de manipulação, ou através de produtos manufaturados pelas grandes indústrias farmacêuticas, destinam-se a pessoas que desenvolvem quadros de obesidade e/ou transtornos do comportamento alimentar, constituindo estes últimos uma realidade emergente e oculta, na Saúde Pública do Brasil.
Dados publicados apontam o aumento do número de adolescentes submetendo-se a operações plásticas por motivos estéticos; segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, os números dobraram de 1997 a 1998 (Sociedade Brasileira, 1999). Diante disso, indagamos: o amadurecimento e a emancipação feminina estão associados, concretamente, a um ganho efetivo em termos do controle que as mulheres exercem sobre seus corpos? Que fatores influenciam esta relação? Qual o papel da mídia nesse contexto?
Nesta busca das mulheres pela magreza, dois tipos de distúrbios alimentares têm entrado em cena nos nossos dias: a bulimia e a anorexia. Tais distúrbios passaram a ser mais conhecidos após terem afetado pessoas famosas ou que estavam em evidência na mídia. A princesa Lady Diana, a princesa Victória da Suécia, uma das participantes do Big Brother Brasil (Leika), a cantora do grupo americano “The Carperts” são alguns dos exemplos mais conhecidos.
Também já foi ressaltado em matéria jornalística que as dietas rígidas, a partir de uma semana, podem causar danos cerebrais irreversíveis, afetando principalmente a memória e o raciocínio, já que comprometem de modo irreversível o córtex cerebral.
Outra reportagem salienta que os distúrbios alimentares vêm alcançando índices epidêmicos e são responsáveis pelo maior número de mortes entre todos os distúrbios psíquicos conhecidos. Em cada grupo de 10 pessoas doentes, uma se suicida ou morre em virtude de parada cardíaca e desnutrição. A maioria dos pacientes vitimados pela anorexia nervosa evita alimentar-se em público, além disto, contabiliza as calorias das refeições, faz exercícios compulsivamente e mantém o peso corporal bem baixo. O perigo está no fato da pessoa portadora de anorexia enxerga-se de forma distorcida, achando-se sempre gorda. As mulheres vitimadas pela anorexia nervosa são adolescentes, de classe social mais alta e apresentam características psicológicas como ansiedade, depressão, descontrole emocional e físico, intolerância à frustração, humor lábil e baixa auto-estima. Para ela as causas do distúrbio são múltiplas, incluindo fatores ambientais, genéticos e, sobretudo, comportamentais.
A pressão de uma sociedade cada vez mais competitiva, o estresse e experiências de vida traumáticas, associadas ao culto do corpo perfeito, têm levado muita gente, a maioria mulheres, a maltratar seu organismo, seja passando fome ou comendo em excesso.
À medida que a mulher, a partir da década de 60, foi conquistando espaço no mercado de trabalho, legitimando a sua emancipação, tendo direito ao voto e ao uso da pílula anticoncepcional, estabeleceu-se um novo paradoxo: a mulher passou, então, a enclausurar-se no próprio corpo sob a égide do mito da beleza. De certa forma, aprendemos a ter uma visão distorcida da beleza, em virtude de a mulher ser maciçamente exposta aos padrões corporais atuais, incorporando essa imagem específica e aprendendo a gostar dela. Em outras palavras, estamos tão acostumados a ver como modelo mulheres extremamente magras que aprendemos ser esse o padrão de beleza.
O culto à magreza inicia-se já nos primórdios do século XX, embora se potencialize a partir da metade do mesmo e tenha seu auge a partir dos anos de 1980, momento em que o culto ao corpo e os modelos corporais a ele associados ganham maior visibilidade, inclusive, por infl uência direta da mídia.
A mulher magra foi mais do que uma moda, foi o desabrochar de uma mística da magreza, uma mitologia da linha, uma obsessão pelo emagrecimento, tudo isso temperado pelo uso de roupas fusiformes, fenômeno nascido na Europa e indissociável do ingresso feminino no mundo do exercício físico, seja sobre bicicletas, nas quadras de tênis, nas aulas de dança, e isto já nos anos de 1920. O corpo deveria ser esbelto, leve e delicado. Inicia-se a perseguição e desprestígio dos quilos a mais, ainda que discretos. Começa-se a fase, da cultura lipófoba, o horror a tudo que é mole, relaxado, gordo e sobre os obesos recairá uma suspeita e um estigma moral.
Atualmente, dietas e exercícios físicos parecem ser os meios mais adequados para se modificar o corpo, o que nos mostra a alta prevalência desses comportamentos. Nas ultimas décadas, ser fisicamente perfeito tem se convertido num dos objetivos principais das sociedades desenvolvidas. Um índice de massa corporal baixo é motivo de orgulho feminino, mas cada vez mais, os médicos associam a riscos à saúde como fertilidade reduzida, maior risco de osteoporose, desequilíbrios hormonais e baixa imunológica.
O aspecto físico parece ser o único sinônimo válido de êxito e felicidade, esquecendo, contudo, que um corpo magro trás não só beleza ao corpo, mas, inclusive, saúde e qualidade de vida. O impacto desse padrão de beleza no comportamento revela-se no desejo generalizado, especialmente entre as mulheres, por um corpo mais magro. A discrepância entre um corpo ideal e o real leva a um estado de constante insatisfação com o próprio corpo e as dietas para perder peso tornam-se freqüentes.
Para saber mais: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732003000100012&script=sci_arttext
http://www.jornaldedebates.ig.com.br/debate/qual-limite-na-busca-beleza/artigo/falacia-corpo-ideal
http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/842/84252107.pdf
http://www.efdeportes.com/efd9/anap.htm
Tudo isso influencia negativamente todos os níveis da sociedade, por esta razão, necessitamos do desenvolvimento de uma metodologia que objetive ensinar a criticar de forma objetiva o que se transmite pela mídia. E de alguma maneira contribuir para desenvolver futuros cidadãos críticos, autônomos e conscientes de seus atos.